21/02/2010

A propósito do 'spam' que às vezes cai no e-mail...

foto de Inês d'Orey

Estava um belo dia de vento e chuva. Iam dois monges a pé a caminho de um mosteiro distante, avançando lentamente por uma estrada de terra enlameada.
A certa altura, viram uma mulher que queria atravessar a estrada mas que hesitava, pois percebia que se ia sujar. O monge mais velho aproximou-se da mulher e, depois de a saudar com uma curta vénia e lhe pedir licença, ergueu-a no ar com gestos cuidadosos, evitando que o seu corpo tocasse o dela e colocou-a do outro lado da estrada. Fez outra vénia, um pouco mais rasgada que a primeira, e assim que ela terminou as palavras de agradecimento retomou a caminhada, seguido de perto pelo outro monge.

Até ao momento em que encontraram a mulher, o monge mais novo falava pelos cotovelos, mas agora ia calado e respondia com secos monossílabos às questões do companheiro. O seu ar era tão carrancudo que o silêncio se tornou mais sombrio e pesado que o céu de tempestade. Horas depois, exaustos e já mergulhados na escuridão da noite, chegaram ao mosteiro. Rezaram, depois lavaram-se e comeram. O monge mais novo manteve sempre o seu silêncio irritado e ostensivo. Só quando o mais velho se preparava para ir dormir é que, com o olhar pregado no chão, resolveu falar finalmente:

- Fizeste mal em pegar naquela mulher ao colo. Porventura esqueceste que fizemos um voto de castidade?

Devagar, o monge mais velho sentou-se outra vez e fitou-oe com um imperceptível sorriso nos lábios. Observou-lhe primeiro as mãos e depois, olhando-o bem dentro dos olhos, disse-lhe simplesmente:

- Eu deixei a mulher na estrada, há horas atrás. Tu ainda a trazes contigo.

(...)

* Desconheço de todo o autor. A história atravessou-me o filtro de spam e salvou-se por um triz. Achei que era o seu karma continuar a circular por aí. No caso, passando por aqui. Também.

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